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21 fevereiro, 2015

No prato que se encontra a prevenção das doenças

Nas prateleiras das farmácias estão os tratamentos de grande parte das doenças que afligem o mundo moderno. Porém, é no prato que se encontra a prevenção e, dependendo do mal, até a cura. Associados a problemas como diabetes, obesidade, gastrite e hipertensão, entre outros, os alimentos têm um papel ainda maior para a saúde e o desequilíbrio do organismo do que a medicina ocidental apregoava. Pesquisas recentes indicam que uma dieta inadequada está associada a outras moléstias que não as metabólicas. Até distúrbios mentais entram na conta.
“Através dos tempos, homens e animais aprenderam como manter e restaurar a boa saúde ingerindo alimentos que melhoram o sistema de defesa do organismo. Não podemos nos esquecer dessas lições”, defende o imunologista indiano Anil Kulkarni, professor do Departamento de Cirurgia da Universidade de Ciências da Saúde do Texas (EUA) e pesquisador de alimentos funcionais. 
Nascido na área rural do país asiático, foi lá que ele notou, pela primeira vez, o impacto da dieta na saúde e na doença.

Kulkarni foi criado na cultura ayurveda, que tem mais de 7 mil anos e se sustenta em pilares como alimentação, massagens, meditação e prática de yoga. 
“Meu avô tinha uma indústria de ervas e temperos. Quando ingeridos diariamente, eles podem melhorar a fisiologia, aumentando a produção de células sanguíneas e impactando na saúde em geral. Os médicos precisam se envolver com a defesa da alimentação apropriada como prevenção de doenças”, diz.
Assim também pensa Jerome Sarris, psiquiatra da Universidade de Melbourne e integrante da Sociedade de Pesquisa Internacional em Psiquiatria Nutricional.
No mês passado, ele publicou na revista The Lancet Psychiatry um artigo no qual defende que a dieta é uma peça-chave para o tratamento de males como depressão e transtorno bipolar.
“É hora de os médicos considerarem a dieta e os suplementos alimentares como parte do pacote de tratamento para dar conta da enorme epidemia mundial de doenças mentais.  Os determinantes da saúde mental são complexos, mas, cada vez mais, há um corpo de evidências sobre a importância da nutrição e sua implicação na incidência de distúrbios mentais. A nutrição é tão importante para a psiquiatria quanto é para a cardiologia, a endocrinologia e a gastroenterologia”, afirma Sarris. 
De acordo com ele, estudos têm mostrado que ômega-3, vitamina B (especialmente folato e B12), colina, ferro, zinco, magnésio, vitamina D, aminoácidos, entre outros nutrientes, influenciam na produção de neurotransmissores, as substâncias que, em desequilíbrio, provocam uma série de distúrbios mentais. O médico cita, inclusive, uma pesquisa do ano passado que mostrou como uma dieta pobre em nutrientes seguida por gestantes está associada a futuras crises de depressão e ansiedade nos filhos.

Pulmões
A saúde pulmonar também está diretamente associada à nutrição, de acordo com um estudo publicado recentemente no British Medical Journal. Depois de analisar dados de 120 mil pessoas que participaram de estudos nacionais de saúde entre 1984 e 2000, pesquisadores da França e dos Estados Unidos constataram que a ingestão de grãos integrais, gorduras polissaturadas e nozes, assim como a baixa ingestão de carne vermelha, grãos refinados, açúcar e embutidos diminui o risco de doença crônica pulmonar. Mesmo os fumantes beneficiam-se. “Nossos resultados encorajam os clínicos a considerar o papel potencial dos alimentos para a promoção da saúde pulmonar”, destacaram os autores do estudo.

A nutricionista Cecília Gravatá, especialista em nutrição clínica e terapia nutricional, diz que os alimentos funcionais produzem efeitos benéficos para a saúde como um todo, da cabeça aos pés, porque influenciam nos processos metabólicos que regem o corpo humano. 
“O alimento, ou composto, pode auxiliar em várias patologias presentes em todos os órgãos humanos, como compulsão alimentar, fadiga, deficit de concentração e memória, hiperatividade, disfunções do sono, dores de cabeça e enxaquecas, disfunções gástricas e problemas digestivos”, enumera.

ENTREVISTA
Catharina Walzberg, neuropata

Desintoxicação deve ser constante 
Aos 12 anos, Catharina Walzberg, nascida na Alemanha em 1934, já gostava de preparar chás medicinais, fazer compressas em entorses e massagens na coluna da mãe. O gosto pela área da saúde foi herdado por três gerações de médicos na família. O avô era naturopata, uma visão humanista da medicina que defende a prevenção e a cura de doenças por meio, principalmente, da alimentação. Em casa, o princípio era aplicado com seriedade de forma que, segundo Catharina, ninguém jamais precisou tomar remédios durante a infância.

Os conhecimentos repassados pelo avô e as leituras vorazes sobre o tema levaram a alemã a se tornar uma naturopata autodidata. Catharina experimentava, nela mesma, os tratamentos indicados por médicos europeus, onde essa prática é difundida há muito tempo. Na década de 1960, morando no Brasil, conheceu um médico que se encantou pela filosofia trazida pela alemã na bagagem. Com a ajuda dele — que de amigo passou a marido —, ela montou uma clínica de medicina natural no interior de São Paulo.

Quarenta anos depois, a clínica é um espaço de 50 mil metros quadrados que recebe pacientes como o médico e ex-ministro da Saúde Saraiva Felipe, autor da introdução do livro Você pode ter saúde, basta querer, escrito por Catharina. Em entrevista ao Correio, ela defende que, para ter saúde, é preciso desintoxicar o corpo sempre, e não apenas no período pós-festas.

Garantindo que o segredo de uma vida longe de doenças passa necessariamente pelo prato, a naturopata diz que os profissionais da saúde começam a se render à importância da dieta como forma de prevenção, mas chama a atenção: 
“Precisa aumentar o número de médicos que têm a compreensão do enorme valor de uma dieta natural para o doente, até mesmo para aumentar a eficácia dos medicamentos que prescrevem”. 
No início do ano, muitas pessoas adotaram dietas detox por causa dos excessos. O jejum e a desintoxicação deveriam fazer parte da realidade do ano todo?
Deveriam, sim. Nosso organismo precisa ser desintoxicado constantemente e, para isso, tem um mecanismo próprio, que só entra em ação quando não estamos digerindo alimentos. Coisa que geralmente só acontece de madrugada, por poucas horas, o que não é suficiente para mantê-lo livre de matérias tóxicas. Por esse motivo, costumamos orientar os nossos pacientes a fazer uma dieta exclusivamente líquida em um dia em cada semana e seguir uma dieta vegetariana e natural nos outros dias.

Hoje em dia, quase ninguém pode se alimentar em casa. Com essa rotina corrida, é possível seguir os princípios naturopatas na alimentação?
É mais difícil, mas possível. O desjejum pode ser tomado em casa, se a pessoa se dispõe a levantar mais cedo e beber um a dois copos de água para abrir o apetite. Iniciar com duas a três frutas — 200 a 300g. Depois, um mingau de flocos de aveia, quinua ou amaranto com banana, maçã ralada, nozes ou castanhas picadas, passas, iogurte, limão e mel, tudo cru. Em seguida, uma ou duas fatias de pão integral com patê de leguminosas ou azeitonas, ou com doce caseiro de banana ou frutas secas, sem açúcar. Para beber, uma xícara de chá de ervas ou leite vegetal. No almoço, está cada vez mais fácil encontrar um restaurante vegetariano ou um que tenha bufê para escolher os alimentos mais saudáveis. Para o jantar, se não for possível se alimentar em casa, será útil levar de casa, em um isopor, algumas frutas, sanduíches naturais, frutas secas e nozes. Conheço inúmeras pessoas que fazem isso e se sentem muito bem, dispostas e leves para trabalhar.

A senhora acredita que os médicos estão mais preocupados em pesquisar a influência da dieta na prevenção de doenças?
Sim, alguns acreditam e orientam os pacientes nesse sentido. Outros aconselham consultar-se com uma nutricionista “funcional”. São nutricionistas com pós-graduação em alimentos terapêuticos. Mas ainda precisa aumentar o número de médicos que têm a compreensão do enorme valor de uma dieta natural para o doente, até mesmo para aumentar a eficácia dos medicamentos que prescrevem.

Poderia dar exemplos de como a alimentação preventiva ajuda no combate a doenças?
Os benefícios já são sensíveis após um a dois meses, e incluem a perda do excesso de peso, a normalização da pressão arterial, a redução da glicemia no diabetes 2, a regulagem da função intestinal, a superação da gastrite e da colite crônica, a melhora da fibromialgia e das doenças reumáticas, a redução do ácido úrico, do mau colesterol e dos triglicérides, a vitória sobre as dores de cabeça crônicas, a acne. Enfim, um bem-estar geral, uma nova vitalidade e uma energia inéditas. Parece que o corpo suspira aliviado com o novo “combustível” que a pessoa está fornecendo e põe todos os sistemas orgânicos a funcionar como devem, especialmente o imunológico, responsável pela prevenção de infecções e alergias.

É possível pensar em saúde sem ser de maneira holística?
Pode tentar, mas não vai conseguir. Nosso corpo é todo interligado na área física, emocional e espiritual. E nossas células, que formam todos os órgãos e glândulas dessa máquina viva maravilhosa, precisam estar bem cuidadas para exercer suas funções da maneira correta. Se estiverem desnutridas ou intoxicadas, nenhum medicamento, seja ele alopático ou natural, vai nos devolver a saúde.

Fonte: diariodepernambuco

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